E sentamos nós quatro naquela mesa. Depois de uns 40 minutos, chegou mais um, publicitário – um tanto satisfeito, um pouco cansado.
Pedimos cerveja, pastel e a boazinha – uma cachaça brasileira que levanta o humor, diminui a ansiedade e aumenta o volume das gargalhadas pelo galpão. Eu passei pra frente a boazinha, mas fiquei com a cerveja e o pastel.
E então começamos uma das coisas que eu mais gosto de fazer aqui nessa cidade – sentar na mesa de um bar e dividir um pouco da vida com quem não tem pressa. Não sou a maior degustadora de cerveja do mundo mas sinto apreço pela cumplicidade que ela proporciona – deixa todos menos posados, mais frágeis e sem a obrigação de dizerem que está sempre tudo bem.
é ali, quando estamos todos reunidos que descobrimos as nossas maiores fragilidades. as confissões são ditas como frases comuns, que saem entre os goles, os olhares cansados e as risadas, cada vez altas.
é ali que percebemos que quem tem um trabalho fixo quer ter mais tempo livre e quem está sem emprego procura uma atividade permanente. e que todos queremos mais viagens, mais amor, mais filmes como medianeiras. mais noites como essa. mais calma, também.
e trocamos assuntos, experiências e notícias de jornal. coisa de jornalista. falar do que já está devidamente falado e felicitar-se por perceber que todos ali sabem do que se trata. e por aí vai a noite, meu amigo. alguns acendem o cigarro, outros checam o e-mail pelo celular. sentados ou em pé, estamos todos ali juntos, compartilhando o que tem dado certo, errado e todo o resto que tem caminhado, sabe-se lá para onde.
ninguém quer ir embora, pede a saideira, a vida é curta, fica um pouco mais. temos nós, temos todo mundo, ninguém está sozinho. passa o visa, 30 reais me parece justo, o ponto de táxi é logo ali. e assim vamos todos, para casa que já está escura e se faz noite. sem copo, soltos, um pouco mais alegres, um pouco mais tristes.
sem ninguém ao redor, a mesa de bar fica lá no tempo e nós aqui sozinhos novamente. com as cortinas abertas. sempre à procura, estudando, lendo, crescendo, indo atrás. e no fundo, solitários, tentando criar coragem, paciência, cheios de redes sociais e separados por uma multidão que não se conhece e por vezes, não se interessa. esperando o dia em nos veremos novamente. nós, que com tantas indas e vindas, temos os mesmos sentimentos.
você – que está aí lendo este post – e eu.
iguais. como somos, em uma mesa de bar.
Conversa em mesa de bar é pura filosofia
Fala-se de amenidades
Discute-se e se opina
É uma verdadeira oficina
Da cultura e do saber
Do direito, do dever
Tudo é democracia
Berço da cidadania
Elitista e popular
Conversa em mesa de bar
É pura filosofia
Põe-se pra fora a angústia
Tristeza, felicidade
Existe cumplicidade
Vive-se cada momento
E sempre se fica atento
As novidades do dia
Fala-se de música, poesia
Do malfazejo, o bem estar
Conversa em mesa de bar
É pura filosofia
É onde se fala de tudo
Discute-se o que quiser
Sobre política, mulher
Futebol, religião
Até a globalização
Aborda-se com sabedoria
Fala-se de sonho, de utopia
Sobre problemas do lar
Conversa em mesa de bar
É pura filosofia
Onde tudo é importante
Urgente, primordial
Até o erro é normal
E o errado pode ser certo
Lá nada fica encoberto
Desnuda-se a hipocrisia
Onde se amanhece o dia
Conjuga-se o verbo amar
Conversa em mesa de bar
É pura filosofia
Propício pra se plantar
E se colher amizade
Sentimentos de verdade
Sem vergonha são expostos
Vê-se nos traços dos rostos
Rompantes de alegria
Flagrantes de nostalgia
Tristeza não tem lugar
Conversa em mesa de bar
É pura filosofia
É terapêutico, curativo
Para quem se faz presente
É onde o diferente
Mistura-se, logo se iguala
É onde a timidez não cala
Enfrenta a zombaria
Tudo flui em harmonia
E tudo fica em seu lugar
Conversa em mesa de bar
É pura filosofia.
Puxa, que bacana. Obrigada por isso, é maravilhoso Celso!
Acho poetico o encontro nas mesas de bares,onde tudo se aborda e somos mais livres naquele momento, somos mais inteiros….Parabéns!
A Vida é feita de pequenos momentos. E nada melhor do que uma mesa de bar para vivenciar esses pequenos momentos que tornam-se inesquecíveis em nossa memória.
Ótima conversas sobre todos os assuntos possíveis, cervejas, otimas gargalhadas, sorrisos, novas amizades. A mesa de bar proporciona tudo isso para aqueles que souberem desfrutá-la.
Já dizia o saudoso Vinícius de Moraes: “Nunca vi boa amizade nascer em leiteira.”
Ora. Nada mais verdadeiro
Crônica sensacional! Grande beijo. :)
Obrigada, luquitas! =)
muitos bares para todos nós!
Adorei seu texto, parabéns!
Obrigada, Camila! =)
Seu melhor texto até hoje.
Vc já é uma cronista da cidade, que está a perder seus cronistas.
Muito bom, mesmo, Mário de Adnrade se orgulharia de você.
Sem exagero.
Obrigada, querido!
Me senti mergulhada em água branda, porém correndo, nem gelada, apenas fresca.
Me senti na mesa, participante-passiva, apenas ouvindo. Sorte quem tem 3 amigos que mutuamente se entendem. E “festejam” o momento quando se encontram.
Keep writing.
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