e isso tem sido estranho.
estou, há três dias, vivendo no meu quarto com meu computador solitário e os meus pés presos em sapatos. a cozinha esta coberta de pó, a sala forrada de jornal e de uma lona preta que deixa o piso mais sujo e cansado.
tudo tem sido uma lembrança de como meus pais faziam quando éramos crianças – empilhávamos os sofás, televisão e cadeiras embaixo de um grande lençol. um cheirinho de tinta fresca ficava à mostra durante a noite e andar descalços pela casa era proibido até que os pintores recolhessem tudo e deixassem a casa em ordem.
naquela época, era gostoso e desafiador para mim e minhas irmãs – abandonarmos o quarto individual e nos juntarmos ao meu pai e mãe para dormirmos todos juntos em meio a móveis e ferramentas acumuladas que deviam esperar a tinta secar para voltarem ao seu devido lugar. emoção era sair fora da rotina.
desde então, nunca tinha estado sozinha em uma casa enquanto esta fosse pintada. não até hoje. a sensação é a de crescer de uma vez por todas. acho que quando pintam a casa da gente e você tem que cuidar de tudo sem a ajuda de ninguém é porque o caminho é sem volta, meu amigo: a gente realmente já cresceu.
e tem que cuidar de tudo para que a casa volte a funcionar. as paredes ficam brancas novamente, uma nova história deverá ser construída ali.
mas e o medo? de sujá-las e estragar tamanho esforço. está tudo limpo, liso, com aroma de novo. a sensação é a mesma de uma virada de ano, em que a ansiedade por preencher um espaço vazio pela frente se faz caprichosa, cheia de cuidado. é difícil pregar pregos em paredes recém-pintadas. acho que precisarei de ajuda.
estão pintando a minha casa e agora só me resta esperar. daqui a dois dias poderei voltar a mesa para a sala, ligar a tv na tomada e limpar a grossa camada de cinzas que se apoiou sobre meu telefone. começarei a reerguer as cadeiras e as cortinas deverão ser colocadas de maneira que não fiquem tortas e enrrugadas. a cozinha vai precisar de um pano úmido para voltar a respirar, e as plantas lá de fora, ficarão para sempre com resquícios de tinta branca. algumas coisas, não tem jeito mesmo.
eu vou voltar e me acostumar ao novo branco. com o tempo, colocarei quadros na parede e quem sabe até me arrisque a colar um adesivo – pequeno – no corredor de entrada. tudo deverá ser refeito, dia após dia, como um caminho que não vê graça enquanto não é preenchido de fotos, narrativas, marcas boas e ruins.
estão pintando a minha casa.
e essa não será a primeira vez.
Assim como sua casa, estou pintando minha vida, remodelando cada traço e trazendo o branco,para que outras cores e detalhes sejam acrescentados mais tarde.
Realmente, crescer é deixar coisas para trás.
Obrigada Talita, vi que compartilhou o link no facebook, fico muito contente.
E desejo toda a sorte e amor do mundo nessa pintura que está fazendo na sua vida, grande beijo.
Todo nós, em algum momento de nossas vidas, teremos que pintar a Vida, que é a casa da nossa Alma.
Lindo texto. :)
Clara,
Achei lindo! Você tem muitas habilidades hein menina! Parabéns!
Vou voltar aqui mais vezes para ver os próximos textos…você ganhou uma fã!
Bjs
É isso ai, Clara!! Estou com a Paty!! Adorei!!! Parabéns pelo lindo texto… Que venham os próximos ;)
Bjos
Obrigada Vivi, querida! :)
apareça mais vezes por aqui, beijos.