O lixo e a minha paranóia
Eu virei a menina chata da reciclagem e do consumo consciente. Neurótica, irredutível.
Qualquer torneira aberta por muitos segundos, sacolas plásticas de supermercado em excesso, comida sobrando na panela, eu implico.
Guardanapo de papel na mesa, óleo de cozinha jogado na pia, pilha no lixo comum, são motivos para puxar a orelha de alguém.
A diarista lá de casa já se prepara quando eu chego: faz cara feia e diz que só está lavando a garagem porque minha mãe mandou.
Ir ao supermercado é uma paranóia. No momento de passar as compras no caixa, sacolas e sacolas embalam produtos e se despedem em segundos com o tchau da empacotadora: "Volte sempre!"
Na última vez, sugeri a minha irmã o seguinte plano: trazermos o estoque de sacolas de casa e assim não utilizarmos embalagens novas. Ela torceu o nariz, achou a idéia um 'mico' e avisou: Não irei ao mercado com você.
Ao descartar potes de yougurte, requeijão e maionese lavo cada dobrinha até que não sobre mais nenhum restinho do produto dentro do recipiente. Imagino depois, o catador de lixo com a mão grudada só porque na minha casa, joguei no lixo sem lavar. Tudo no mercado vem com muita embalagem. Caixa de bombons, de macarrão, pacote de bala e de shampoo. Todas vão para o lixo rapidamente e eu imagino se não há uma forma de vender os produtos, sem tantos plásticos e papéis ao redor. As propagandas na TV vivem falando do poder da reciclagem. Eu vivo pensando em como podemos gerar menos lixo. A reciclagem consome energia, oras, ela não é tão sustentável assim. O jornal diário que chega na porta da minha casa também me preocupa, embora eu não viva sem ele. Ao final de cada semana, uma montanha de notícias velhas se junta no canto da sala e me pergunta - para onde vamos? Eu separo os papéis e torço para que dê tudo certo. Eu e meu lixo. O lixo e a minha paranóia. Tem solução?
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