O telefone toca.
– Quer tomar um suco?
– De laranja?
– Não sei, isso importa?
– Eu não tô afim de laranja hoje.
– Pode ser no bar aqui perto de casa?
– Eu vou ter que ir até aí?
– Eu passo para te buscar.
– Não sei.
– Não sabe o quê?
– Tô cansada.
– É só um suco, Maria.
– Não é só um suco.
– Pode ser de melancia, se você preferir.
– É você.
– Eu o quê?
– Não é só um suco. É você, eu e tudo o que não dá mais certo.
– Não está certo pra você?
– Pra você está?
– Eu perguntei primeiro.
– Eu não gosto de cachorros.
– O problema é o Jorge?
– Ele também.
– Vamos tomar o suco!
– Tô cansada, já falei.
– Vamos conversar, Maria.
– Você acha que eu cozinho bem?
– Por quê?
– Você nunca elogia.
– Que conversa é essa….
– Lembra do nhoque com nozes?
– Lembro.
– Tá vendo!
– O quê?
– Você não gostou.
– Maria….
– Quê?
– Tô passando aí.
– Não.
– Você está de trança no cabelo?
– Por quê?
– Eu gosto do jeito que o seu brinco se esconde nos fios soltos da trança.
– Hum.
– E então?
– Que horas você passa aqui?